terça-feira, 6 de outubro de 2020

Será que estou ficando burra?

"Talvez fosse um sonho...na verdade um misto de sonho e pesadelo, olho minhas mãos e as marcas de caneta ainda estão nela, as anotações da noite de trabalho ainda está nela, um pouco apagadas, mas minhas mãos ainda estavam estão sujas. Um cansaço crônico movimenta-se pelas entranhas do meu corpo, até meus pensamentos já não são tão rápidos como antes, a falta de o pouco sono diário deixa marcas e dói...dói ainda mais na alma, nos meus sonhos, no meu dia-a-dia; o cansaço me rouba as ideias, me rouba a paz, me rouba o brilho dos olhos, roupa rouba até as letras das palavras que escrevo. Será que estou ficando burra?...comecei a trocar as letras de algumas palavras."


sábado, 18 de maio de 2019

Meu primeiro dia de trabalho


    Meu primeiro emprego com registro na Carteira de Trabalho foi em uma indústria. Anos antes eu estaria sentada em uma sala de aula discutindo sobre as teorias de Karl Marx e as tragédias ocasionadas pela busca do capital. Anos antes eu também estaria assistindo ao filme "Tempos Modernos" (1936), produzido e encenado por Charlie Chaplin.
    No dia 19 de Outubro eu entrei na empresa, sentei em um banco de concreto muito frio, logo após vestir roupas brancas e colocar as botinas e outros  Equipamentos de Proteção (EPI's). Nesse dia, esperei ansiosa e temerosa com o que viria pela frente. Algum tempo depois chegou uma pessoa para me buscar, fui sendo guiada a cada passo. [...]
    Fiquei perdida, via muitas máquinas e poucas pessoas. Fui guiada até uma mesa, fui ao encontro dos futuros colegas de trabalho (novatos como eu) e também até à minha líder de área (uma das chefes). Andamos pela fábrica, era gigante, até chegar na área em que eu iria trabalhar pelos anos seguintes. Agora o grupo era guiado por outra pessoa, conheci as etapas do processo e logo fiquei em uma linha de produção pegando os produtos que saiam da máquina de forma repetitiva. Vez ou outra eu olhava as pessoas, pareciam que tinham se fundido com as máquinas, parecia uma coisa só.
    Eram pessoas cansadas, pálidas e concentradas no seu ofício noturno. A fábrica não parava. A produção era constante e eu só sabia me concentrar nas dores nas minhas pernas. Parecia tortura... e era. Me recordo de Michel Foucault falar sobre a "docilização dos corpos", somos manipulados até que sigamos todas as regras e se houver a quebra destas, então haveria punições (medidas disciplinares), aos poucos eu estava me tornando uma daquelas que eu tanto temia. Eu estava operária, embora não fosse efetivamente. Minha mente não estava ali, apenas o meu corpo.